As origens do neocórtex: Nem tão novo e nem tão único.
Os mamíferos são terapsídeos, um grupo de vertebrados pertencente aos sinapsídeos, um táxon mais amplo que, além dos mamíferos, inclui seus ancestrais mais diretos e vários subgrupos aparentados a esses ancestrais. Uma das características que distingue nosso ramo particular da linhagem dos terapsídeos é a posse de um neocortex, um região cerebral especializada formado por seis camadas que revestem o prosencéfalo, a porção mais anterior de nossos encéfalos [1, 2, 3]. Uma parte importante das habilidades sensoriais, motoras e cognitivas de nossa linhagem depende dessa estrutura. Apesar de a origem do neocortex ainda estar envolta em discussões e debates, a visão mais difundida é que ele teria evoluído, primeiramente, por volta do fim do período triássico em terapsídeos ‘mamaliformes’ [4]. Novas evidências, entretanto, sugerem que um tipo de ‘neocortex’ teria evoluído quase 25 milhões de anos antes da emergência dos primeiros mamíferos, em um ramo colateral dos terapsídeos – isto é, em um ramo distinto daquele dos nossos ancestrais diretos, portanto, denotando um caso de convergência evolutiva [4, 5, 6].
Estudando um crânio fóssil de 255 milhões de anos do Therapsida, Kawingasaurus fossilis, do final do Permiano, encontrado na Tanzânia, o estudante de doutorado Michael Laaß descobriu que o espécimen apresentava um volume cerebral relativo cerca de duas ou três vezes maior do que observado em outros terapsídeos não mamíferos. Segundo Laaß, o Kawingasaurus possuía um prosencéfalo grande com dois hemisférios cerebrais distintos, exibindo, claramente, uma estrutura semelhante ao neocórtex de mamíferos [5].
O trabalho, realizado em colaboração com Anders Kaestner, do Instituto Paul Scherrer, na Suíça, foi conduzido utilizando-se da tomografia de nêutrons e reconstrução computadorizada da anatomia craniana interna em 3D. O fato de a cavidade endocraniana do espécimen encontrar-se quase totalmente ossificada foi o que possibilitou uma reconstrução virtual menos hipotética da endomolde’ cerebral [5, 6, 7].
Os autores relataram, em um estudo publicado no Journal of Morphology [5], neste mês de junho, a ausência de um forame parietal e um pequeno fosso entre os hemisférios cerebrais foi interpretado como um corpo pineal. Segundo o artigo, um sulco mediano demarcaria os dois hemisférios cerebrais inflados um do outro e uma possível fissura da raiz, do resto da endocasta. Eles também relataram que o chamado ‘quociente de encefalização’* estaria por volta de 0,52, o que é 2-3 vezes maior do que o observado em outros sinapsídeos não-mamíferos. Canais infraorbitais extremamente ramificados no focinho são outra característica que chama a atenção, como constatam os autores do estudo. Como explicam, no abstract do artigo:
“A forma da endocasta do cérebro, os canais maxilares extremamente ramificados, bem como os pequenos olhos posicionados frontalmente, sugerem que adaptações sensoriais especiais ao habitat subterrâneo, como um senso de toque bem desenvolvido e visão binocular, podem ter impulsionado a evolução paralela de um equivalente do neocórtex dos mamíferos e um sistema visual lemnotalâmico semelhante ao mamífero em Kawingasaurus. A anatomia bruta da endocasta cerebral de Kawingasaurus suporta a hipótese de grupo externo, segundo a qual o neocórtex evoluiu a partir do pálio dorsal de um antepassado semelhante aos anfíbios, que recebe projeções sensoriais da via lemnotalâmica. O cérebro alargado, bem como a ausência de um forame parietal, podem ser uma indicação para uma maior taxa metabólica em Kawingasaurus em comparação com outras sinapsídeos não-mamíferos.” [5]
Segundo o artigo, os princípios da tomografia por radiação de nêutrons quanto são semelhantes ao da mais conhecida baseada em raios-X; sendo um método de aquisição indireta, onde um conjunto de projeções (radiografias) são obtidas a partir de diferentes visualizações, no caso do estudo, ao longo de uma trajetória circular. Após obtidos, os dados de projeção são transformados em uma representação de volume da amostra [5, 6]. Já a modelagem tridimensional e a visualização das fatias tomográficas foram feitas utilizando-se do software AMIRA 5.4, seguindo o método descrito pelo próprio Laaß em colaboração com B. Schillinger, em dois artigos anteriores [6]. Os pesquisadores explicam que as estruturas de interesse, como os ossos cranianos, as endocastas cerebrais e vários canais de nervos e vasos sanguíneos foram ‘vetorializados’ em fatias manualmente ou, sempre que possível, semiautomaticamente, com a ferramenta de segmentação da AMIRA [5].
Acima uma figura que mostra o crânio de Kawingasaurus (créditos: Michael Laaß / Verlag Wiley-VCH) [4].
Em resumo, esse extraordinário espécimen possuía olhos frontalmente posicionados, consistentes com visão binocular em ambientes com baixa iluminação; além de extremidades do nervo trigêmeo extremamente ramificadas que adentravam pelo focinho, uma possível indicação que o animal possuía um senso de toque bem desenvolvido. Por fim, o Kawingasaurus possuía vestíbulos, no ouvido interno, muito grandes, sugerindo boa adaptação na detecção de vibrações sísmicas do solo.
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*O QE é uma medida relativa do tamanho do cérebro, definida como a relação entre a massa cerebral real e a massa cerebral prevista para um animal com um determinado tamanho, que se supõe indicar o nível aproximado de inteligência ou cognição dos animais [veja artigo da wikipedia].
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Referências:
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Benton, M. J. (2000) Mammals. Pp. 639-644, in The Oxford Companion to the Earth, P. L. Hancock and B. J. Skinner (eds), Oxford University Press, 1174 pp.
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Shoshani, J. 2003. Mammalia. eLS. Published Online: 29 JAN 2003 DOI: 10.1038/npg.els.0001552.
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Sues, H.-D. 2001. Synapsida (‘Mammal-like Reptiles’). eLS. . Published Online: 30 may 2001. DOI: 10.1038/npg.els.0001547
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Universität Duisburg-Essen, ‘A skull with history: A fossil sheds light on the origin of the neocortex’ 26 June 2017.
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Laaß M, Kaestner A. Evidence for convergent evolution of a neocortex-like structure in a late Permian therapsid. Journal of Morphology. 2017;00:000–000.https://doi.org/10.1002/jmor.20712.
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Laaß, M., & Schillinger, B.(2015). Reconstructing the auditory apparatus of therapsids by means of neutron tomography. Physics Procedia, 69,628–635. https://doi.org/10.1016/j.phpro.2015.07.089
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Laaß, M. (2015). Virtual reconstruction and description of the brain of Pristerodon mackayi (Therapsida, Anomodontia). Journal of Morphology, 276,1089–1099. DOI: 10.1002/jmor.20397.
Última resposta: Parte I:
Vamos mais uma vez, mas pela última vez,
Caro Rodrigo,
Sua resposta de quase um livro, e depois eu que sou prolixo!?
Você realmente não é muito autocrítico, não é? Eu tenho uma desculpa para ser prolixo que é a quantidade absurda de erros e distorções (além das repetições) presentes em seu texto. Qual é a sua? [Essa é uma pergunta retórica, pois eu imagino bem qual a sua desculpa]
Tinha desistido, e nem me interesso ficar com a última palavra, apenas quero ver em mais detalhes sua visão, conceitos, conhecimentos dos quais não preciso discordar 100%.
Note que muitos processos aceito como: seleção, mutação, adaptação, deriva. especiação etc, ainda que não sejam suficientes pra gerar macro mudanças.
Primeiro, o que você chama de ‘macro mudanças’? Segundo, mesmo que não sejam suficientes, estes não são os únicos processos e mecanismos evolutivos? Terceiro, mesmo que não o fossem suficientes, isso não é uma evidência pró-design inteligente. Sem maiores detalhes não creio que valha a pena comentar sobre estas suas alegações.
Várias vezes aqui, vc usou a expressão “consenso da comunidade científica”. Exato, é apenas um acordo ideológico em comum entre vários evolucionistas para blindar o mito; pois se usassem os métodos empíricos e heurísticos científicos nas pesquisas para comprovar um fato relativo a TE; não seriam evolucionistas.
E junto com essa expressão fiz menção ao conjunto de evidências científicas que dão apoio a este consenso e que, portanto, levaram a esta mesma comunidade científica (composta de membros com as mais diversas ideologias e religiões) concluírem pela atual posição, ao mesmo tempo que chamei a atenção para que a oposição a este consenso ser, esta sim, ideologicamente motivada, e, principalmente, apoiada em falácias, equívocos, erros e distorções.
Então, este consenso não á um simples acordo ideologicamente motivado (diferente da sua posição) e ao discordar disso cabe a você (e aos outros criacionistas) o ônus de demonstrar isso com argumentos sólidos e evidências convincentes, o que até agora não foi feito.
Em parte; não é como o artigo finaliza:
“Estamos longe de ter uma compreensão realmente satisfatória dessas transições, mas estudos como os de Ratcliff, Travisano e seus vários colaboradores mostram como modelos experimentais podem ajudar muito neste empreitada, iluminando etapas extremamente importantes das GRANDES TRANSIÇÕES MACROEVOLUTIVAS.”
Ou você tem problemas sérios de interpretação de texto ou está sendo desonesto intelectualmente. O que ainda não compreendemos bem é o COMO estas grandes transições ocorreram. Isso é um simples fato que qualquer cientista moderno irá admitir, assim como não conhecemos os detalhes dos padrões, processos e mecanismos por trás de muitos fenômenos naturais, para os quais mesmo assim temos evidências muito sólidas de que ocorrem e que por isso não os colocamos em dúvida. Este deveria ser um ponto simples e direto de entender.
Esta confusão entre o fato da evolução e os seus mecanismos e padrões é típica entre os criacionistas. Você é bem típico neste aspecto. Estas coisas é que me desmotivam e continuar nesta discussão.
As pesquisas para formação de vida (uma célula) em laboratório; todas fracassaram. Isso é fato evidencial científico.
Esta sua frase é na melhor das interpretações ambígua e caricata, na pior simplesmente errada. Primeiro, quero lembrar que você mais uma vez ainda está confundindo evolução com origem da vida. Mais o pior é que você está apresentando uma caricatura das pesquisas sobre a origem da vida. Nenhum cientista propõem que células modernas, mesmo as mais simples existentes atualmente, tenham originado-se do dia para a noite ou de uma maneira que seja diretamente replicável em laboratório. Portanto, nã faz qualquer sentido afirmar o que você afirmou: “As pesquisas para formação de vida (uma célula) em laboratório; todas fracassaram. Isso é fato evidencial científico.” Isso não é um fato científico. Isso é pura besteira.
Nesta primeira interpretação sua afirmação seria equivalente a dizer que todas as pesquisas para formação do universo (igual ao nosso) em laboratório; todas fracassaram. Isso é fato evidencial científico’ por que não replicamos o big bang em laboratório, algo que nenhum cientista sério espera fazer, pelo menos não é um futuro próximo, ou ache necessário para corroborar a origem do universo a partir de do big bang.
Problemas como a origem da vida (ou do universo, um tema para cosmologistas e astrofísicos, aliás) são atacados por partes e em vários níveis. Tendo em mente isso que acabei de escrever sua alegação torna-se falsa, pois existem várias pesquisas sobre a origem da vida, desde as envolvendo a síntese de polímeros autorreplicantes até protocélulas.
Um caos de elementos químicos amorais, impessoas, inanimados, ininteligiveis continuariam um caos total; e não formar estruturas complexas replicantes e depois em outras mais complexas ainda.
Errado!! Vc nunca ouviu falar em auto-organização e sistemas fora do equilíbrio termodinâmico? Nunca ouviu falar em reações de Belousov–Zhabotinsky e em células de instabilidade de Rayleigh?
http://en.wikipedia.org/wiki/Belousov%E2%80%93Zhabotinsky_reaction
http://www.scholarpedia.org/article/Belousov-Zhabotinsky_reaction
http://www.scholarpedia.org/article/Self-organization
http://www.scholarpedia.org/article/Complex_systems
http://www.scholarpedia.org/article/Rayleigh-B%C3%A9nard_convection
Mas sabemos que a abiogênese por geração espontânea já foi refutada pelos trabalhos de Pasteur.
O que é trivial e não refuta a biopoiese.
Mais uma vez, é sua interpretação, sua crença, sua asserção, sua ideologia sem base factual científica que tais sistemas surgiram e geraram todo o complexo e variado bioma até hoje.
Não!! Mais uma vez você mostra que não sabe do que está falando e projeta sua cegueira ideológica e desinformação científica na minha pessoa. Vc realmente já foi tentar se informar sobre as pesquisas em origem da vida? Existem várias evidências que nos levam a acreditar que a origem natural é a melhor explicação. Algumas dessas evidências são de origem experimental como as que já mencionei, outras comparativas, como as associadas a universalidade do código genético e de certas redes de reações bioquímicas, muitas delas possuindo análogos n]ão-biológicos viáveis. Mas, além disso, o principal fato que torna os cientistas confiantes na busca de explicações naturalistas é a constatação que não existem alternativas cientificamente viáveis a elas, pelo menos nenhuma que tenhamos conjecturado até o momento.
O DI e o criacionismos são apenas argumentos de ignorância que presumem sem demonstrar a existência de um superser com capacidades muito além de nossa compreensão e que teria sido responsável pela origem da vida, mas sem especificar o como isso teria ocorrido. Na realidade, na maioria dos casos, simplesmente afirmando que não há explicação mecanicística e deixando claro que o tal suposto ato inteligente é um milagre, uma intervenção de um ser sobrenatural que viola e transcende quaisquer leis naturais e princípios científicos de inteligibilidade. É por isso que mesmo os cientistas religiosos, e que tem fé na existência de um Deus, não acreditam que o Criacionismo tradicional e do DI tenha qualquer validade científica. Estes religiosos sabiamente separam sua fé daquilo que pode ser compreendido e explicado de maneira inteligível de maneira sistemática, metódica e crítica com base nas evidências empíricas, adotando a ciência para explicar o mundo a sua volta, como fazem os não religiosos.
Continua ….