Doenças infecciosas causando alterações comportamentais

Doenças infecciosas são causadas por agentes que podem causar danos ao organismo hospedeiro de várias maneiras. Como exemplo posso citar alguns tipos de auto-imunidades (nem sempre são de origem genética) desencadeadas por parasitas específicos, é o caso da febre reumática e doença de chagas, ambas causam danos ao coração por agentes infecciosos diferentes (bactéria e protozoário, respectivamente). Isso ilustra a complexidade das reações que podem ser resultantes da interação parasita-hospedeiro, dificultando sua compreensão.

Quando há uma alteração comportamental decorrente de uma infecção (convêm lembrar que nem sempre a infecção é sintomática) existem três explicações para o fenômeno.

A primeira explicação para alterações comportamentais relacionadas às infecções está ligada à evolução humana. O próprio organismo “percebe” quando há uma infecção e, caso seja necessário, são enviados sinais para facilitar a atuação do sistema imunológico, por exemplo, a febre. O sistema imunológico se comunica através de citocinas, que também são a forma de comunicação com o sistema nervoso. A presença das mesmas no sistema nervoso central pode levar a uma modificação comportamental do indivíduo. Algumas destas modificações se manifestam em várias doenças diferentes, como sonolência, fraqueza, perda de apetite e perda de concentração. O indivíduo apresenta dificuldade de realizar uma série de atividades o que talvez seja vantajoso por permitir maior gasto de energia com a defesa. Infecções, stress prolongado e terapias cínicas podem manter altos os níveis de citocinas no cérebro por um longo tempo e levar à depressão.

Outro fenômeno que resulta em alteração comportamental é um dano neuronal causado principalmente por microorganismos parasitando o sistema nervoso central. Vários parasitas, como a bactéria causadora da tuberculose e o protozoário da malária, podem eventualmente causar meningites e encefalites, e caso não haja um controle resulta em danos ao tecido nervoso. A regeneração dos neurônios é ineficiente e em muitos casos as lesões são permanentes. Mesmo o sistema nervoso tendo uma plasticidade intrínseca que permite outras regiões assumir as funções de áreas lesadas, estes danos podem ser perigosos caso a lesão se encontre em algum local de maior importância. Dessa forma, há um componente aleatório nos danos, pois eles podem ocorrer em qualquer local gerando efeitos diversos.

Por último, as alterações comportamentais podem ser induzidas por parasitas como fenótipo estendido dos seus genes. Este tipo de alteração é intencional, do ponto de vista evolutivo, pois favorece a replicação do parasita. O Toxoplasma gondii (causador da toxoplasmose) tem como hospedeiro definitivo os felinos, mas pode parasitar várias espécies de mamíferos, incluindo o homem. Foi demonstrado que quando infecta ratos ele induz a uma perda de uma aversão específica ao cheiro dos felinos e também uma alteração da atividade dos animais fazendo com que se arrisquem mais. Ambas as alterações levam ao aumento da chance do roedor virar presa e o parasita continuar seu ciclo. É interessante comentar que o camundongo continua sentido outros odores e evitando outros predadores. A alteração comportamental é específica.

Na toxoplasmose humana, os efeitos no cérebro podem levar a uma alteração de personalidade, perda intelectual e esquizofrenia. Como a doença tem ampla distribuição e é majoritariamente assintomática, a maioria dos casos é ignorada. Estima-se que aproximadamente metade do quadros de epilepsia estejam ligados à toxoplasmose. É incrível pensar que microorganismos são capazes de manipular traços tão complexos como comportamentos.

Houve um tempo em que se acreditava que as características psicológicas de um indivíduo são resultantes da sua carga genética o que é, em parte, verdade. Estes traços de personalidade são também amplamente influenciados pelo meio, entendam-se experiências e situações vividas, conforme as idéias de Vigotsky. Acrescentar a possibilidade da presença de doenças infecciosas interferindo é um avanço para compreensão mais acurada do comportamento e seus distúrbios.

Para quem tiver interesse, este link mostra alguns dos casos de manipulação comportamental de hospedeiros:
http://listverse.com/2009/07/29/10-fascinating-cases-of-mind-control/

Fonte das Imagens:

  1. DAVID GIFFORD / SCIENCE PHOTO LIBRARY
  2. YLLA / SCIENCE PHOTO LIBRARY

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5 comentários

  • Olá Luiz! Quanto à avaliação fenotípica imediata que você citou, acho que seria estranho se não ocorresse. O exemplo do carro me lembra aquela situação da preservação ambiental: todos querem salvar o passarinho meigo, mas quem vai lembrar-se do inseto asqueroso cuja população é fundamental para o ecossistema? A evolução permitiu o surgimento de uma visão de mundo que é bastante útil à nossa sobrevivência e reprodução, mas não traduz o que realmente corresponde à realidade completa. O que podemos perceber pelos sentidos é apenas uma pequena parcela da realidade. A luz visível, por exemplo, corresponde a uma pequena fração de todas as freqüências de ondas eletromagnéticas. As ondas de rádio, microondas, raios X e raios gama só puderam ser percebidos com o uso de equipamentos criados pela ciência para ampliar nossos sentidos e compreensão do universo. O mesmo ocorre com nossa percepção do tempo, espaço, sociedade e toda a natureza. A ciência é uma ferramenta segura na descoberta do mundo. No mínimo é ingênuo aquele que pensa compreender toda a realidade que o cerca, mas talvez a sensação de onipotência seja mais importante do que se pensa, uma necessidade de se considerar feito “a imagem e semelhança de Deus”. Da mesma forma que precisamos abandonar nossas concepções de mecânica básica instintiva para entender a quântica, se quiser entender a natureza (e nós mesmos), é preciso abandonar as simples concepções prévias e idéias fantasiosas de divindades humanizadas.

  • Anônimo 9 de abril de 2010  

    Olá Luiz! Quanto à avaliação fenotípica imediata que você citou, acho que seria estranho se não ocorresse. O exemplo do carro me lembra aquela situação da preservação ambiental: todos querem salvar o passarinho meigo, mas quem vai lembrar-se do inseto asqueroso cuja população é fundamental para o ecossistema? A evolução permitiu o surgimento de uma visão de mundo que é bastante útil à nossa sobrevivência e reprodução, mas não traduz o que realmente corresponde à realidade completa. O que podemos perceber pelos sentidos é apenas uma pequena parcela da realidade. A luz visível, por exemplo, corresponde a uma pequena fração de todas as freqüências de ondas eletromagnéticas. As ondas de rádio, microondas, raios X e raios gama só puderam ser percebidos com o uso de equipamentos criados pela ciência para ampliar nossos sentidos e compreensão do universo. O mesmo ocorre com nossa percepção do tempo, espaço, sociedade e toda a natureza. A ciência é uma ferramenta segura na descoberta do mundo. No mínimo é ingênuo aquele que pensa compreender toda a realidade que o cerca, mas talvez a sensação de onipotência seja mais importante do que se pensa, uma necessidade de se considerar feito “a imagem e semelhança de Deus”. Da mesma forma que precisamos abandonar nossas concepções de mecânica básica instintiva para entender a quântica, se quiser entender a natureza (e nós mesmos), é preciso abandonar as simples concepções prévias e idéias fantasiosas de divindades humanizadas.

  • Bom dia!Eu estava procurando um vídeo dessa natureza, com esse tipo de experimento científico, mas não estou conseguindo enviar para meu e-mail nem para responder a um vídeo Criacionista no You Tube. Abraços!.

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